terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Copo Vazio

Ela sorria. Que sorriso lindo. Não. Agora ela gargalhava. Que perfeição. Os cabelos batendo em seu rosto conforme corria e o vento os fazia esvoaçar. Ela olhava para trás e o via. Não corria atrás. Não se afastava. Ele estava ali. Ela continuava a correr, rindo, gargalhando. Oras cansada e choramingando. Mas agora ela sorria. E ele continuava na mesma distância. Uma distância curta. Não importava o quanto ela corresse. Já havia tentando aproximar-se. De nada adiantava. A distância continuava a mesma. Que perfeição. Que perfeição. Que perfeição. Acalme-se. Após isso vem o desespero. Deixe para mais tarde. Eu posso sentir que está feliz. Seja feliz. O deixe nessa direção. É comodo para você e ele. Ela sabia disso. Sim, ela sabia. Que perfeição.


domingo, 18 de dezembro de 2011

Um pouco de sangue, daquela jarra, daquela cozinha, com uma pitada de leite. Um pouco de incompreensão.

 Ela teve vontade de cuspir em sua cara. Vontade de prender seus braços com pregos enferrujados em uma cruz cheia de fiapos adentrando sua pele. Vontade de gritar até deixá-lo surdo. Vontade de chorar até morrer seca. Vontade de arranhar-lhe o corpo até perder todas as suas unhas.Vontade de beijá-lo com a maior intensidade possível, e entrebeijo morder-lhe os lábios até sentir o gosto de seu sangue em sua boca. Vontade de rir sem parar, perder o ar, chorar, até vê-lo entrar em desespero sem saber o que fazer. Vontade de matá-lo e matar-se em seguida; só para poder encontrar-se com ele no fogo ardente do inferno, pensava ela que assim já que o fogo estaria queimando por fora o que estava dentro de si deixaria de existir. Vontade de prendê-lo em uma outra dimensão somente deles dois, e então tê-lo somente para ela. Vontade de tudo, tudo que viesse acompanhado dele.
 Mas ela fez uma promessa, prometeu que se desistisse agora seria para sempre. Ela desistiu. E é para sempre, consigo sentir isso. Ela já não aguentava mais todas aquelas facas cada vez mais fundas em seu corpo. Aqueles ferimentos cada vez mais inflamados. Aqueles sorrisos cada vez mais falsos.
 E ela teve ódio, ela o repugnou. - Eu sabia, você sempre desiste. - Para a merda você e seus pensamentos. Por Deus, você não sabe nada sobre mim. Pensou ela. - Por tanto tempo pensei que você me compreendia ao menos a metade, e agora vejo que nem mesmo se compreende. Eu não o culpo, é complicado esse negócio de compreender. Tanto que até hoje não compreendo porra de nada! Tudo bem, acabou. - Sim, havia acabado, mas ela ainda o visitava todos os dias, em silêncio.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Como eu sempre quis.

Eu quero diferente esse ano. Esse ano eu não quero. Não quero pessoas ao redor. Não quero olhares cheios de brilhos, felicidade momentânea e esperança. Não quero abraços apertados e palavras bonitas e inspiradoras. Não quero música alta. Não quero a casa cheia. Não quero luzes acesas e nem olhar para o céu enquanto observo os fogos e faço um pedido.
Eu quero o silêncio. Quero ouvir o tilintar do copo de chocolate quente ao bater no criado mudo. Quero as luzes apagadas. Quero somente a televisão e o dvd ligado. Quero um filme. Nada de filmes felizes e fúteis. Eu quero ver novamente O Fabuloso Destino de minha querida Amélie Poulain. Eu quero ver pela milionésima vez sem me cansar as Férias Frustantes de Verão, que puts, no final foram tão boas! Eu quero chá quente. Chocolate quente. Cobertor quente. E o meu quarto, com meus livros dispostos na cama, o controle ao meu lado e só. Só isso. Talvez eu ligue para o meu pai, diga que o amo. Talvez.