Primeiramente eu entro na sala, sento em sua frente, cruzo minhas pernas e te observo por alguns segundos. Então você diz, "Pode começar quando estiver pronta." - Ah mas é claro que começarei só quando estiver pronta, ou será que alguém me obrigaria o contrário?. - Após dito isso pisco um dos olhos e mostro estar me divertindo (pois realmente estou). Me levanto, vou até a janela, abro a persiana e dou uma olhada para baixo. - Olha só, daqui de cima parecem apenas formiguinhas facilmente esmagáveis. Tão idiotas, tão ignorantes, tão cheios de si mesmos, coitados. - Solto um riso nada sarcástico. - Seria legal pegar uma arma e sair por ai atirando em tudo e todos que ver pela minha frente só por um segundo, mas é claro que não faria isso, não porque seria um crime, mas porque eu não teria coragem de tal crueldade, afinal, eu me preocupo tanto com todos, e eles fariam tanta falta. - Mais um daqueles sorrisos nada sarcásticos e desta vez um mais discreto. Então finalmente você resolve se pronunciar, "São todos como você, e se todos são tão patéticos, logo, você se torna um..." Me viro levemente ainda com aquele sorriso nos lábios e digo bem devagar como para curtir o momento, - Em algum momento eu disse que não sou? -. Pisco novamente e dessa vez percebo ter-te irritado um pouco, então faço meu papel de ótima samaritana e tento alegrar-te, - Ei, relaxa. - aponto para o céu cinzento pela janela. - Olha só que dia lindo, o sol está brilhando tanto hoje, por que se aborrecer? Só porque estou aqui hoje compartilhando com você, minha querida, - digo este ultimo em um tom nada sarcástico - as maravilhas da vida? Aliás, Deus, meu querido Deus não deve gostar de ver seus filhinhos assim, tão chateados com a vida. - usando cada vez menos sarcasmo, e ainda com aquele sorriso nada sarcástico - Você deveria dar mais valor à vida irmã, afinal, Deus tem algo preparado pra você... Claro que tem, - um breve riso nada sarcástico, tentando me conter - Assim como tem um pote cheio de ouro no fim do arco-íris. - Pisco novamente. Volto a me sentar e fico girando na cadeira. Volto a olhar a serva do senhor e percebo um olhar de medo, repugna ou sei la com que diabos de cara você me olhava, sei que não era normal, e me fazia ter vontade rir, rir muito, daquele modo nada sarcástico. Mas me controlo por um tempo e então deixo novamente meu sorriso-não-sarcasmo aparecer novamente. E você um tanto quanto revoltada diz: "Você realmente não se preocupa com nada? Não tem pena da miséria alheia?". Solto uma gargalhada definitivamente sem sarcasmo algum (desculpe, mas agora foi impossível me conter!) - Que isso, como você pode pensar tais coisas sobre minha pessoa? Minha NOBRE pessoa? É claro que me preocupo, afinal não matei ninguém até hoje - em pensamento não conta ha ha - e bom miséria? - balanço a cabeça negativamente como quem diz "Coitada desta pobre ignorante" - minha cara você já tem experiência suficiente de vida, pensei que já soubesse que somos todos miseráveis! Mas enfim, chega de tanta balela, deixarei você viver sua vidinha super importante no seu mundinho super importante com seus problemas, que aliás, são os piores do mundo. - Dito isso não sarcasticamente vou me levantando da cadeira e andando em direção a porta vagarosamente. Dou os últimos passos, me viro novamente já com uma das mãos na maçaneta e digo - Ah, e não se esqueça, Deus tem um plano na sua vida! - Dou uma piscadela, e saio gargalhando pelo corredor.