quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O infortúnio da descrição

 O que importa não é exatamente o que é, e sim o que achamos que é. Fora um tempo de dificuldades, a garota foi morar sozinha pela primeira vez, e como resultado de sua rebeldia e uma pitada do querer provar algo escolheu o lugar mais longe possível, podia haver outros agravantes também, mas que importa quando se tem a rebeldia e a provação? Nada. Tudo. Nada, porque assim pensava que era, nada mais importava à ninguém, nem mesmo seu bem estar, foda-se, quem se importa? Ninguém. Com o que? Nada. Com quem? Ninguém.
 Havia o pai da criança, um cara um tento quanto carrancudo, para a vida, para as pessoas, assim só, só assim. Tão. Nunca estivera em seus planos uma filha, mas aconteceu, seja como for, de quem foi a culpa, aconteceu. Não consigo decidir, e duvido muito que os protagonistas dessa história consigam, se o certo seria abortar - considerando que nenhum dos dois queriam - ou se à partir da decisão tomada, pela parte da mãe, de ter a filha absteve o pai de criar a filha, já que por ele o aborto seria feito. Não sabemos, aliás, quem sabe mente, falaceia. Voltemos ao pai... carrancudo eu já disse, essa carranca não era por si só, carranca, era da forma como o mundo era visto pelo pai: "Não vou me adequar, imagine só, trabalhar uma vida toda para continuar a sustentar esse sistema. Viverei bem e trabalharei o suficiente para me manter, não preciso de mais". Daí se tira uma boa parte do que foram os problemas entre o pai e a mãe.
 De início houve a rejeição da filha pelo pai, questão de no máximo um ano, dois, três no máximo, não tenho certeza clara. Um pai que não esteve presente, nem emocional nem dinheiramente. Que barra não? Uma mãe de dezoito anos, já com seus problemas de uma infância conturbada - que ironia, fora esta também rejeitada pela mãe, maltratada pelo pai... Queria ela o mesmo para filha? Deixemos para o fim do texto. - e agora com uma filha à tiracolo e sem a ajuda de ninguém. Que inferno de filha, tornou sua vida um inferno - ela só esqueceu-se de constatar que apenas ter esse pensamento, mesmo que inconscientemente tornou a vida da filha um inferno ainda pior, afinal, ela não havia pedido para nascer, afinal, ela não entendia "como a vida funcionava", não sabia porque das surras quando sua mãe chegava do trabalho, achava mesmo que quebrar um copo era motivo de calças abaixadas e cintada na bunda e sem poder chorar para não apanhar mais. -.
 O pai novamente, acabou a relutância em aproximar-se e enfim quando se deu tornou-se o melhor pai do mundo. Aham, o melhor, de acordo com a filha, mas não se esqueçam, era um pai carrancudo, não ia se adequar, não ia se ajustar e estabilizar num emprego e viver infeliz o resto da vida. "Amor não enche barriga", a mãe dizia. Não enche mesmo, mas tampa os buracos do peito e da mente deixados por uma infância largada, uma infância regada de boa comida e roupas quentes para o inverno, mas também repleta de surras sem explicações nem prévias nem tardias, repleta de perguntas respondidas com patadas repetidas que pareciam até ensaiadas. Um pouco de amor não faria mal, certo?
 Entendamos, a descrição se faz pela memória retorcida, digo e repito, não importa o que é, mas sim o que achamos que é. Nesse caso o que ficou foi o sentimento, que dói, rasga e desencadeia lágrimas por horas à fio, não importa o que foi, importa o que ficou, os buracos ainda estão aqui, o pai tampou a maioria e da parte dele quase nenhum está aberto, mas os do passado não se podem mais serem fechados, descobri afinal que uma vez abertos as portas se perdem, as chaves inexistem. Não deixe buracos na sua filha, ela não pediu para nascer.
 Uma garota mimada, uma descrição distorcida, um grito pela educação, um grito pelas decisões melhor tomadas, uma lástima que a vida se tornou e eu vejo repetir-se bem ao meu lado.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

[..]porque não se há certezas.

 Aqueles olhos magnéticos, forçaram-me à olhá-los com intensidade, olhá-los e contemplá-los sem preguiça, sem vontade, absurdamente só e tão completo. Fizeram de mim carcaça, pobre, inútil - útil somente em contemplá-los - e mera, mera pessoa observadora. Eu te amo, pensei. Não posso nunca, pensei. Não quero nunca mais ir embora, mas não quero também vê-lo nunca mais. Nem em vida nem em morte, nunca. Nunca mais. Mas o quero para sempre, tão sempre, tão forte. Tão angustiante. Corra. Corri. Devia voltar, sabe, à vida que espera para ser vivida. Voltei. Quero ir embora, aqui é que moram os perigos, numa dessas pode passar uma moto e dar-me carona; eu posso - e sei que vou - gostar de toda aquela sensação de liberdade, até que morro sem perceber, num acidente brutal. Morri, ótimo, agora não tenho mais porque, nem do que fugir. Mas viver, ah, era tão bom; mesmo que à deriva, viver existindo, como mera observadora de olhos engolidores, era por si só muito bom - puxo um gancho para os Amores que mesmo ora físicos continuam à ser platônicos por si só, digo, intensidade. -. No fim era bom poder ir e poder voltar, e na verdade era só isso que eu queria, um eterno nascer e morrer; de amores, de alma, de saudades, de desejos, de felicidades, de olhares, de vidas e mortes, mas conscientemente; se mas[...]

domingo, 10 de março de 2013

O nada se faz

De alma
em alma
faz-sem almas
Com almas

Do corpo
no peito
sem medo
bem estar

Estar certa
de ser incerta
quando se está certa

Certo do incerto
que do nada se faz
acabando por estar feito

Ver ao longe
Acreditar no incerto
Sentir o indolor.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Nada se deve fazer.

Enxaqueca da alma
mal lavada
maltrapilha
mal criada.

Mal estar
do corpo
do peito
e do medo

Medo do certo
tão incerto
quanto certo

Certo de que
nada se pode
nada se deve
Fazer.

Fazer crer.
Fazer ver.
Fazer sentir.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Do horizonte de ninguém.

Ambíguo.
Ambíguo, eu disse.
Nem de menos, nem de mais.

Quase um infinito.
Eu diria um universo inteiro.
Aqui e acolá.

Afinal, quem pode?
dizer-me o certo
por-me um padrão
aqui?

Acolá que dirá!
Quase que pela culatra se sai.
Nem eu nem você
nem ninguém pode ver
Quando se está acolá.

Mentira!
De fato, enganoso!
Duvidoso!

Posso ver o que posso ver.
Todos podemos. Estamos vendo.
Mas o demais é nós quem decidimos.
Aqui sempre fica de fora, e acolá nem se cogita.

Viu só?
O verso se foi pra lá.
Longe, à perder de vista.
Quase além do horizonte!

Do meu
do seu
do nosso
de todos.

Mal sabe.

Eu poderia evocar Eros,
ainda melhor:
Eros o agridoce.

Quanta besteira!
Não poderia,
tanto quanto roubar.
De menos, matar.

Não o conheço.
Como poderia eu saber?
Dos seus gostos?
Para então encantá-lo?

Mas confesso,
gostaria bastante.
Você bastante aqui.
Ao meu lado.
Com ou sem encanto.

Já não mais sei.
Qual o fulano da vez?
Ouvir dizer que agora...
agora é Ciclano.

Batutas são vocês.
Talvez eles também,
quiçá até nós.

Deixe disso.
Já muito me delonguei.
Eros não veio,
nem virá.

De qualquer maneira,
ainda posso fazer meu agridoce.
Decerto que com ele seria melhor.
Mas...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Por vocês eu viveria até a eternidade!

 É assim, e sempre foi. De algumas pessoas eu, realmente, sinto dó. É uma dó misturada com raiva, não sei nem qual é mais aguda, sei que tem, acho que intercalo, os dois sentimentos me são intensos.
 Acontece que fica tudo mais difícil, com menos sentido quando a vida que se leva é uma vida e nada mais. Sem segunda chance, sem posfácio e nem continuação. Temos apenas um volume pra fazer valer à pena e sem muito mimimi, é o que é e daqui a pouco não será mais nada. 
 Mas não importa, realmente não importa! Entenda, o que não importa são as merdas, eu tenho dezoito anos e eu gosto! Entenda, já vivi dezoito anos e sim, eu gosto! Mas por quê? Depois de tanta merda pra atolar o pé. Não por quê, mas por quem. E eu digo, de boca cheia e olho brilhando - Por vocês!!! -, sim, esse texto é absolutamente pessoal, absolutamente sensível e eu diria até bem viado. Que me importa? Não vou te mandar comer torta, mas se quiser pode mesmo parar de ler JÁ.
 Enfim, sem mais rebolos, vou logo dizer o porque de aqui ter vindo. Vou agora falar dos segundos tipos de pessoas, deixe-me fazer uma citação de mim mesma que eu tanto tenho adorado: "Existem pessoas que nos fazem querer viver mais, só pra podermos conviver mais, absorver mais daquela essência tão maravilhosa". Sim, escrevi todo esse texto só pra citar essa frase tão maravilhosa que tão bem resume um zilhão de coisas. No mais, não tem mais. É isso, texto dedicado à todas as pessoas que se encaixam na frase supracitada, mas principalmente ao Meu pai - sempre em primeiro lugar - e à Marina, a mais Marinosa de todas as Marinas.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

É mesmo um fantasma. Digo, sou.

Quase um fantasma.
Um fantasma de mim mesma.
Eu mesma de fantasma.

Talvez uma índia.
Já há tanto morta.
Lembrança remota.

Vendo assim, uma sombra.
Menos que uma sombra.
Uma penumbra.
Ou mais.

Talvez uma estrofe quebrada.
Com menos de três versos.

Mais que isso.
Um texto sem nexo.
A comparação sem como;
transformou-se em metáfora.

Talvez um fantasma de fato.
Eu nunca vi.
Nunca me vejo.
Me olho;
mas não me enxergo.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Apesar dos pesares


E para a minha sorte,
para o meu descansar
o meu apesar dos pesares
aquela música começou
aquela com o toque natalino
é triste, sim, é.
A namorada está em coma.
Mas o toque é suave.
E para minha sorte
para o meu descansar
o meu apesar dos pesares
aquela música começou
começou a tocar.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Quando chapada eu posso tomar posse da Terra!

Sinto como estar...
estou chapada.
Mais do que chapada
estar/estou dopada.

Ah, mas que entorpecente é
...seria o ar caso ficasse...
está pesado, tão turvo quanto
estaria/está minha visão.

Eles insistem em me fechar
eu sinto estar...
eu estou cedendo.

Só mais um empurrão.
Só mais um empurrão
e a terra será/já foi nossa.
Foi o que eles disseram/dizem.

Não mais cederei
Arranco-te os miolos
seja como for
o ar denso sobre minha mente
não mais. Não mais.

Eles tentaram/tentarão
Colocarão a culpa na cafeína.
Eu chamo isso de ser/fui
Ainda sou!

Só mais um empurrão.
Vamos, quero continuar
estar/estou chapada.
Não mais cederei.
Só mais. Não mais.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Um lugar, fixo.

Quão tristes são os lugares.
Lugares fixos.
Eternamente fixados
em seus pontos fixos.

Eles têm memória
Tudo que aconteceu ali
ali ficou fixado
naquele lugar fixado.

Mas se nada acontece
nada acontece.
De nada se lembra
nada se fixa.

Eu não queria ser um lugar
eu até queria ser fixa
Mas não consigo ser fixada
num ponto fixo.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Mais que confortante, é viciante!

Uma ponta na ponta.
Na ponta do estômago
do coração, da cabeça ou do corpo
é de fato uma pontada!

Ah, dói, dói na alma.
Dói na essência.
Ah, não se dissipa.
Dói que se vê.

Eu não pedi que parasse.
Faz favor demônio,
volte aqui com essa faca.

Sua voz me soa ao fundo.
Me entorpece, me adormece.
Eu penso que é calmante.
Mas em verdade é ensurdessante.

Eu já disse, não pedi que fosse embora.
Eu quero sentir essa dor até o fim.
E eu não quero que tenha fim.
Não até o fim...

Não até eu dizer que acabou.
Dizer que agora pode ir.
E eu posso, a qualquer momento,
pedir que vá.
Mas fique, fique até nunca mais!

Talvez seja triste.

Já não sinto mais o corpo
O ar aqui já é mais que rarefeito
e de tempos em tempos posso sentir.

Não sei se sinto de fato
talvez sejam só devaneios mais que devaneios.
É uma pressão contra meu corpo
Deve ser a terra que fora jogada em meus restos.

Não estou morta!
Preste atenção, não estou morta.
Mas vocês estão me matando viva.
Já posso sentir os vermes que assim como vocês
querem que eu seja decomposta.

Eu me esforço.
Preciso voltar à superfície.
Mas já não é mais possível.
Sou eu contra o mundo.
E eu não tenho um Deus.
Sou eu, só eu mesma.

Espero apenas que chova.
Torrencialmente.
Quero ter calos e senti-los doer.
Quero sentir apenas uma última massagem.
Quero apenas poder observar o belo.
Já não preciso mais vivê-lo.
Por mim tudo bem, vocês venceram.

A garota da barriga cheia.

Ela vivia com a barriga cheia, comia um grão de arroz e já sentia a barriga pesar.
- Vamos sair? - Era a pergunta que mais fazia a barriga pesar. 
 Corria pra cozinha e tratava de tomar um bom copo d'água. "Não posso, estou de barriga cheia" pensava. 
 Quase sempre era de propósito que ela enchia a barriga, mas não tinha como evitar, pois sabia que a barriga enchia com qualquer coisa e precisava se alimentar. Por conta disso a garota da barriga cheia já não mais saia de casa, pois de tanto recusar os convites a sua barriga ficou ainda mais cheia por ainda menos. Até que um dia se cansou e resolveu sair, foi repetindo o ato com frequência, até a barriga já não mais encher.

Ela é sagitariana.

Me empurra e me puxa.
Me puxa e me repuxa.
Me faz e me desfaz.
Desfaz e refaz.
Ah, quanta maestria.
Num moldar quase imperceptível.
Ela sabe que poderia...

Poderia ir de prosa à poesia.
Assim, num passe de mágica.
Sem muita esgueiria.

Seus dedos, aqueles dedos.
Delicados como seu olhar.
Não se pode piscar.
Olhe bem para a maravilha de Eros.

Não carece correção.
Já veio perfeita assim, desfeita.
E no refazer ficou ainda melhor.
Aleatoriamente padronizada em seu padrão.

Eu termino por aqui.
Sem muito sucesso
meu elogio à minha querida
Sagitariana de Eros.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

... mas talvez eu não seja.

 Fora uma noite calma, na verdade, uma noite mentirosa. Nada teve de calma, enquanto o silêncio prevalecia nos ali presentes o despertar acontecia - mesmo sem o dia antes amanhecer. - na mente - não tão - perturbada de uma garotinha - talvez de mais de uma -.
 - Espero que você tenha tido tempo suficiente.
 A garota que agora já não mais conseguia acompanhar o fingimento do escuro abre os olhos enquanto força suas mãos contra o peitoral. - Está tudo bem, está tudo bem. É só mais um sonho, um sonho... - pensa e repensa na esperança de que seja a verdade.
 - Eu não tenho todo o tempo do mundo - Tá, eu tenho, mas vai lá saber quanto tempo o mundo tem - zomba. Aliás, me diga, já está pronta para conhecer o mundo?
 Agora de olhos já abertos o medo se foi, não sabe bem o que está vendo mas gosta, sente seu coração bater forte e um gelado no rosto que poderia dizer ser o vento se não fossem a janela e porta fechadas.
 - Com os olhos fechados é mesmo mais difícil, não sabemos o que está acontecendo e a nossa imaginação escolhe os piores - melhores - momentos para ser fértil. Fico feliz que esteja finalmente pronta.
 - O... o que é você? - Gaguejou a menina, num tom menos de medo do que de curiosidade.
 Um riso breve é ouvido. - O que? O que sou eu? Mas que falta de educação! Não seria de mais pompa perguntar-me quem sou?
 A garota apenas acenou que sim, e agora com seus olhos bem abertos tentava distinguir o que via, um conjunto de sombras, um borrão mais escuro que o outro, quase uma silhueta - se não fossem pelos espinhos...- Você, você tem pontas?
 A criatura sorriu e tocou nas "pontas" - Está se referindo à isso? -. Eram como espinhos, grossos e pontudos, um saia do lado esquerdo do peito, alguns das pernas e nas costas das mãos mais outros. - Quer mesmo saber o que são? - Não esperou pela resposta. - Eu os adquiri em batalhas, sabe, quando eu ainda era meio que você. Acontece que eu não sabia que essas batalhas - vencidas ou não - me faziam mal, e eu só fui descobrir ao me tornar o que sou agora, já cheia desses espinhos.
 A criança, agora potencialmente assustada e de olhos cada vez mais arregalados - como isso é possível? - perguntou com a voz vacilante. - Eu um dia serei como você?
 Agora a criatura vira de costas, e por conta do amanhecer os vãos da porta e janela trazem frestas de luz ao quarto, tornando possível ver que falta algo. As costas, são como um grande buraco negro, estão ali, no formato como devem ser, mas não é sólido, é como se te engolisse e te mandasse do nada ao infinito e do infinito à coisa alguma, num ciclo sem fim. - Eu sou você, eu sou todos vocês, eu sou Deus, eu sou o Universo, e infelizmente, eu sou um sonho; talvez um pesadelo. Eu sou...

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Análise, trabalho de férias.

O texto analisado - Introdução à vida não fascista - fora tirado do livro "Por uma vida não fascista" de Michel Foucault.


 Na Europa, entre os anos de 1945 e 1965, para que se fosse considerado culto, digno de enunciar partes da verdade sobre si e sua época era preciso seguir um padrão. Concordar em número grau e gênero com Marx, compreender Freud e tratar com o maior respeito os significantes da época.
  Houve no Vietnã durante cinco anos, o que Foucault chamou de “o primeiro golpe em direção aos poderes constituídos”, isto é, um golpe que deixou o que era até então conhecido e aceito como forma única de poder fora posto em dúvida. Enquanto na Europa passava-se uma confusa mistura de um poder anti-repressivo revolucionário e uma guerra onde estavam na vanguarda a exploração social e a repressão psíquica. Possivelmente um desejo posto pelo conflito de classes. E por conta disso, dessa interpretação dualista, torna-se plausível a explicação do que foram os anos mais utópicos da Europa, quando a Alemanha de Wilhem Reich e a França dos surrealistas retornam abraçando Marx e Freud, juntos por uma só causa.
 Agora o combate entre o movimento dos que não se conformavam com o modelo marxista de política e o desejo que não era mais freudiano foi-se ter em novos horizontes. Deixando em dúvida se era mesmo uma retomada do projeto utópico doa anos trinta pela sociedade.
 O Anti-Édipo chega para nos incitar a ir mais longe, além de Freud e apenas Freud; não faz pouco dos mais velhos, apenas nos faz ir além.
 Não é, entretanto, para tomar o Anti-Édipo como uma nova bula a ser seguida, isso seria um erro.  Não é para toma-lo como o certo e somente ele. É para ser visto como um englobamento de novas profusões noções e conceito, uma junção de conceitos. Para melhor ser compreendido, deve ser tomado como arte. De onde surgem questões que vêm mais para responder como do que o porque.
 O livro nos dá três adversários com os quais se confronta que não têm a mesma força e representam graus diferentes de ameaça. Com os quais Anti-Édipo lida de formas diferentes.  São, basicamente, os que detêm o poder em suas mãos de maneira tão errada, tomando a parte pelo todo e os unificando mais e mais. Sendo cada vez menos passíveis de mudanças e rotuladores de tudo desde um objeto até nome de todos os sentimentos e desejos humanos. Tendo como o principal adversário o fascismo, não somente o tão conhecido de Hitler e Mussoline, mas o que nós, nós todos, cometemos em nosso dia-a-dia, nos fazendo amar o poder.
 É tido como um livro ético, o primeiro escrito na França – seja talvez essa a razão de ser tão importante, ter-se tornado não mais só um livro, um estilo de vida -. Ensina-nos a desencravarmos de nós mesmos as tão diversas formas de fascismo.
 Em homenagem a São Francisco de Sales, o autor diz ser ó Anti-Édipo uma Introdução à uma vida não fascista.
 Diz ainda ser necessário seguir alguns princípios para que se viva uma vida contrária a todas as formas de fascismo, enumerando uma série destes como se fizesse um guia para uma vida cotidiana e que aqui poderíamos resumir dessa forma:
- Não à política totalizante.
 - Espalhe os desejos por justaposição, disjunção e proliferação, mais do que uma organização hierarquizada piramidalmente.
 - Considere um governo nômade, que se molda conforme as necessidades. Liberte-se da lei, a castração, a falta, que proveio do tão antigo pensamento Ocidental.
 - Entenda que é a ligação do desejo com a realidade que torna possível a revolução e por conta disso não ache que é preciso ser triste para ser militante.
 - Não ponha o pensamento como apenas especulação, torne-o aliado da política, intensifique-o, como um multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política.
 - “Desindividualize” e passe a multiplicar, aceite o deslocamento e os diversos agenciamentos.
- Não ame o poder.
 Enfim, neste livro os autores não usam de galanteios para seduzir o leitor, fazendo com que este passe a compartilhar da mesma opinião contra sua própria vontade. Ao contrário, eles convidam, mas também deixam a porta aberta para que o leitor saia caso assim queira. Persegue de todas as formas possíveis o fascismo, mesmo aquelas que passam quase que despercebidas.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Perigo.

 Eu já havia dito hoje mais cedo - Você é um perigo. -, hoje mais tarde eu pensei, não só pensei, eu disse, disse em meus sonhos, aqueles nos quais só tenho encontrado você. Dessa vez eu pude contemplar seu sorriso, já não haviam mais barreiras, eu pude ver absolutamente tudo e no fim dum longo suspiro eu finalmente, novamente, disse - Você é um perigo. -, agora um ainda maior, as vezes nas quais eu sorrir, como reflexo virá à mim o seu sorriso. E eu prometo, eu prometo não parar de sorrir até que um novo devaneio me tome desse mergulho.
 Vou passar a escrevê-lo por aqui, não sei bem o que mais você realmente é, não vou me delongar em descrições. Eu quero é discrição. Mas posso dizer sem dúvidas, você é um perigo.
Eu quero correr esse perigo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

"Passa então a amar tudo aquilo que não ganhou[...]"

Eu não preciso - mas vou - me explicar quanto ao título. Não tem muito - entenda bem as entrelinhas - a ver de fato com o texto de onde fora tirado. Mas tem, tem muito; é o começo, bem no início antes de começar a leitura, naquele silêncio preenchido de "o que está por vir?". Você me veio, me chegou e sentou, acontece que eu me perdi no tempo e esqueci de tirar o binóculo, depois de tirado pude perceber quão longe você realmente estava. Talvez seja mesmo isso, eu te amo porque não te tenho. É. Eu tenho dessas, pouco do que mais amo me pertence no plano real, não me importa, eu sempre gostei das coisas mais surreais. Por favor, não me diga que você é real, se você for e estiver mentindo continue a me enganar, está tão bom, tão bom, tão bom.... Eu posso te sentir na minha alma, eu não sei o que ou quem é você, nem sei se é. Mas posso sentir, sei que eu pertenço à você e não o contrário, eu gosto assim, eu prefiro assim, é quase como um deus, posso sentir suas mãos maestrando acima das minhas vontades, quase acredito em destino.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Um recado à mim mesma[...]

Não se deixe morrer, não se deixe perder, e se perder ache-se, por favor, encontre-se. Eu juro, não estou tão longe, por favor, vire no próximo e retorno e venha me restituir à sua vida se for mesmo o caso de ter-me perdido.
Não falarei de valores, moralidades e princípios a seguir - eu mudo a cada segundo, não posso falar n'algo concreto e duradouro, tenho problemas com cousas duradouras, sou imediatamente intensa demais! -, falo apenas em felicidade, por favor, esqueça todo o mundo ao seu redor e pergunte-se quanto a sua felicidade, é só isso que importa, só isso e mais nada, junto dela já vem todo o resto necessário.

[...]porque são necessárias certas precauções. Não tenho muita certeza de quase nada. Eu acho que não sei e também não sei se acho. Não me imponho limites e menos ainda conveniências, isso é ótimo, é uma delícia e é também perigoso. Por isso são necessários os recados colados na geladeira e todo o resto, eu preciso lembrar-me do que realmente importa todos os dias porque pessoas hiperativas costumam perder o foco com muita facilidade.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Ela é Sagitariana

 "A cumulo nimbo já está aposta, os raios reluzentes - agora não tão mais reluzentes - já não nos chegam à face. Agora sinto o cheiro e o vento a cortar em meus cabelos com mais ferocidade a cada segundo, como numa contagem regressiva na qual o entusiasmo na voz aumenta com a chegada do fim. É o fim, não pra mim, é o fim pra à ti. 
 O primeiro contato se deu e eu posso ver que isso fere como ácido aquele tão bem moldado rosto. Oh minha querida, não chore, mesmo a morte pode ser bonita, basta fixar seus olhos n'outro ponto. Não chore, venha, eu prometo lhe cobrir até que a tempestade cesse." 
 O trecho supracitado foi um pensamento solto ao andar na chuva hoje à tarde. Claro, não foi exatamente assim, estava melhor quando pensamento, assim como todo o resto, as palavras originais também são sempre melhores. 
 E hoje mais cedo, ao te dizer quão difícil estava a situação foi uma alusão implícita ao fato de ver-te todos os dias, imagine só... Não, não imagine, é muito difícil.
 Não importa, de qualquer maneira, gosto de sua companhia.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Nesse caso o mais não é positivo.

De tanto embelezar-se, protelando contra a vida real enrustida em seu medo de enfrentá-la - como ruim que era à ela -, acabou por tornar-se só mais uma... Só mais uma!
De tudo foi dado para que este rumo não fosse tomado. Antes o nada, talvez isso devesse bastar - e bastaria! - caso o tudo não lhe tivesse ido de graça.

Já não me lembro qual costumava ser o seu titulo...

... e pra não ser tão explícita. Que comece... termine.
 Hoje abri aquela caixa antiga, aquela que costumava ficar exposta na nossa sala, aquela cuja qual eu menti dizendo que havia jogado-a fora assim que você se foi.
 A verdade é que eu a escondi onde nem mesmo eu tivesse fácil acessoe resolvi acessá-lo hoje.
 Estava cheia de "trecos", coisas velhas. Nem eu imaginava a antiquaria na qual aquilo havia se tornado.
 Mentira! Você sabe, não faz tanto tempo assim. Acontece que eu as havia posto num lugar tão fundo em minha mente que parecia já não mais existir.
 É verdade, você como você não me faz falta, hoje eu já nem quero sentir seu cheiro. Ouvi dizer que seu perfume agora é doce demais, suas roupas novas demais e seu cabelo tá com um corte novo. Mas ah!, que falta me faz aquela dos bilhetes que reencontrei naquela caixa! Céus!!!, eu reli quase tudo, e UAU, me senti como se eu fosse mesmo como outra pessoa ao seu lado, e até mesmo você também mudasse ao meu lado. "Você está aqui pra me provar que eu posso entregar-me totalmente à alguém, de olhos fechados e braços atados; eu sei que você vai me segurar!". Lembra-se? Pois é, eu não me lembrava de ter sido capaz um dia de confiar totalmente em você, parabéns, você conquistou e jogou tudo fora. - Fiquei até com vontade de rir. - Isso me lembrou a conversa que tive hoje mais cedo sobre os ricos: eles têm tudo e não dão valor geralmente ganhando mais e mais; enquanto os pobres, bom, nós sabemos. A questão é que você me tinha por inteira, totalmente em suas mãos e - inexplicavelmente - isso se intensificava a cada dia! Até que - voi la - como numa bomba foi-se tudo duma só vez. Parabéns novamente. Mas principalmente parabéns a mim, que consegui me recompor e - acredite ou não - tenho novamente a capacidade de acreditar totalmente em alguém - não em você, é claro! -, e por conta disso: parabéns e obrigada.
                                                                      -
 Isso não é uma história de amor, não de amor com troca de saliva. É um breviário duma bomba, nada muito conhecido, é uma bomba muito rara e cara - impagável - de nome amizade. Um breviário em câmera lenta de como ela foi criada para então ser explodida, com direito a cenas especiais de como ficaram os destroços e como foram reconstruídos.