quarta-feira, 19 de setembro de 2012

É difícil me ser, duas vezes.

 Adentrando o quarto pude perceber o quão nebulosas estavam as coisas. Céus, o que aconteceu por aqui? Por Deus, abra a janela. - Não tem janela. - Ora, então acenda a luz. - Queimou. - Vamos, saia já daí, quero conversar sério contigo. - Não, somente sairei ao desentender, sairei quando já não mais houverem saídas, e então, eu, paradoxalmente (como sempre) sairei. Deixarei a nebulosidade dos fatos quando esta já tiver lhe cegado e sufocado... - Ah deixei falando, bobeira né? Creio que deva ter entendido tudo que eu a havia dito.
- Por favor, eu só não queria e nem quero brigar. Eu entendo seu lado, até por isso lhe deixo na nebulosidade, assim como você um tanto de vezes me foi eu também lhe sou mais um tanto. Entendo perfeitamente o que passas e melhor ainda que essa birra de criança logo passa e então seguiremos em frente, só não pude lhe esconder isso agora pois poderia lhe colocar contra o sol, ora essa, sou amiga dos dois, do sol e da lua, porque haveria eu te me por no meio? Não faço esse papel, sou sincera e sempre me fui, tropeço no omitir dos fatos, mas assim como você, não sou perfeita também. - Pausa para a água e para luz, é muita nebulosidade. - 
- Vá embora, estou bem na minha nebulosidade e não preciso de você, não preciso mesmo, pode ir, ande, meu cigarro, minha bebida e meu criado me são de muita melhor companhia, vá se embora e se ficar, bom, cale a boca, contigo eu só quero risos, quero que sejas sim perfeita, não pode sentir raiva, não pode tentar se manter fiel ao sol e a lua mesmo nem mesmo em tempos crepusculinos. Olhe, eu não sei bem o que quero e também não quero te explicar, por que acha que estou aqui nessa nebulosa? Eu sei que se quiser ir vá, não vou tentar me explicar, isso é papel seu, certo? Vá pode ir, não me importo se se importou o suficiente pra omitir fatos que me chateariam, não me importo se teve coragem o suficiente pra vir tentar conversar comigo mesmo em tempos tão sombrios e abafados, vá a porta está aberta e é isso mesmo, ainda bem que deu a pausa, eu não faço a mínima questão de você.
Abaixo-me a cabeça e me afasto sem que minha face agora possa ser vista de dentro do quarto. Pensando no que ouvira exatamente hoje mais cedo no nascer do sol "Não que tenha desisti, só cansei de insistir" digo, no silêncio. - E isso dói, dói como nada que já houvera sentido antes, não sei por onde começa doer e nem por onde dói mais. É tudo, a promessa de um futuro eterno desfeita. As cartas queimadas. A cumplicidade esquecida - quê? pessoas são só pessoas, se preciso de uma mulher existem várias outras no mundo. -. Mas acho mesmo que a faca sem ponta nem haste, o tétano do meu eu, é o fato de que a coisa em que mais acreditei, menos desacreditei que um dia pudesse vir a se quebrar, quebrou, não tenho base alguma para acreditar em outra coisa se quer, simplesmente desacredito até de mim, acho é que vou acordar na madrugada e me esfaquear, ou sei lá, num dia andando na rua me jogarei fora no lixo e direi - Saia, vá logo, não te quero aqui. - ou então, mais realista - tudo bem, pode ir, não sentirei falta, logo ligo para sua substituta. -. Que seja, amei, amei tanto que nunca pensei fazer defender e aceitar coisas como a fiz. Quão lindo? Ao menos posso parar de procurar por uma alma gêmea - dizem que só se encontra uma na vida -. Ao menos posso dizer que amo, que amo como nunca amei ninguém - isso não é coisa que se acabe numa vida, aliás, em vida nenhuma. -. Ao menos posso dizer que vivi intensamente, venha, quero me juntar às estrelas, nessa vida, eu quero calma, não quero encontrar amor nenhum, por favor, já tive agitação suficiente, na próxima talvez, noutro planeta; mas no momento quero apenas fazer parte de um sistema qualquer sendo uma estrela qualquer. 

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