sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

... mas talvez eu não seja.

 Fora uma noite calma, na verdade, uma noite mentirosa. Nada teve de calma, enquanto o silêncio prevalecia nos ali presentes o despertar acontecia - mesmo sem o dia antes amanhecer. - na mente - não tão - perturbada de uma garotinha - talvez de mais de uma -.
 - Espero que você tenha tido tempo suficiente.
 A garota que agora já não mais conseguia acompanhar o fingimento do escuro abre os olhos enquanto força suas mãos contra o peitoral. - Está tudo bem, está tudo bem. É só mais um sonho, um sonho... - pensa e repensa na esperança de que seja a verdade.
 - Eu não tenho todo o tempo do mundo - Tá, eu tenho, mas vai lá saber quanto tempo o mundo tem - zomba. Aliás, me diga, já está pronta para conhecer o mundo?
 Agora de olhos já abertos o medo se foi, não sabe bem o que está vendo mas gosta, sente seu coração bater forte e um gelado no rosto que poderia dizer ser o vento se não fossem a janela e porta fechadas.
 - Com os olhos fechados é mesmo mais difícil, não sabemos o que está acontecendo e a nossa imaginação escolhe os piores - melhores - momentos para ser fértil. Fico feliz que esteja finalmente pronta.
 - O... o que é você? - Gaguejou a menina, num tom menos de medo do que de curiosidade.
 Um riso breve é ouvido. - O que? O que sou eu? Mas que falta de educação! Não seria de mais pompa perguntar-me quem sou?
 A garota apenas acenou que sim, e agora com seus olhos bem abertos tentava distinguir o que via, um conjunto de sombras, um borrão mais escuro que o outro, quase uma silhueta - se não fossem pelos espinhos...- Você, você tem pontas?
 A criatura sorriu e tocou nas "pontas" - Está se referindo à isso? -. Eram como espinhos, grossos e pontudos, um saia do lado esquerdo do peito, alguns das pernas e nas costas das mãos mais outros. - Quer mesmo saber o que são? - Não esperou pela resposta. - Eu os adquiri em batalhas, sabe, quando eu ainda era meio que você. Acontece que eu não sabia que essas batalhas - vencidas ou não - me faziam mal, e eu só fui descobrir ao me tornar o que sou agora, já cheia desses espinhos.
 A criança, agora potencialmente assustada e de olhos cada vez mais arregalados - como isso é possível? - perguntou com a voz vacilante. - Eu um dia serei como você?
 Agora a criatura vira de costas, e por conta do amanhecer os vãos da porta e janela trazem frestas de luz ao quarto, tornando possível ver que falta algo. As costas, são como um grande buraco negro, estão ali, no formato como devem ser, mas não é sólido, é como se te engolisse e te mandasse do nada ao infinito e do infinito à coisa alguma, num ciclo sem fim. - Eu sou você, eu sou todos vocês, eu sou Deus, eu sou o Universo, e infelizmente, eu sou um sonho; talvez um pesadelo. Eu sou...

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